Marcelo Lins
Quem assistiu ao divertido
curta-metragem de Kleber Mendonça Filho Recife
Frio deve ter dado boas risadas com as situações inusitadas vividas pelos
personagens, habitantes de um Recife tropical assolada por uma misteriosa onda
de frio, com direito a pinguins, casacos de frio, muito queixo batendo e até
mesmo neve.
Se para os recifenses da vida real,
qualquer temperatura entrono de 22º Celsius já é considerada frio, e abaixo de
vinte entram em cena casacos e até alguns cachecóis, imagine algo em torno de
11 graus!
Rua do Livramento
Pois bem, em setembro de 1885, os
termômetros recifenses marcaram em suas colunas a temperatura de 11,4º Celsius,
a menor já mais registrada na capital pernambucana desde o início da década de
1840, quando foram feitas as primeiras medições, até hoje. Seis meses depois,
em abril de 1886, nova ocorrência climática atípica, desta vez, inversa, os
termômetros registram uma temperatura de 39,6º, a maior já registrada no Recife
até aquela data.
Além do fato peculiar de ter o dia
mais frio enfrentado pelos recifenses em mais de dois séculos, os fenômenos de
1885-1886 marcaram uma mudança profunda no padrão de temperaturas registradas
na cidade. Depois da impressionante baixa de 11,4º de setembro de 1885, as
temperatura mínimas que, até então, variavam entre 16º e 18º, passaram a
oscilar entre 20º e 21º. Do outro lado, as temperaturas máximas que ficavam
entre 31º a 37º, passaram para um patamar menor, entre 31º a 33º.
Desta forma, os nossos
antepassados, até a segunda metade do século XIX, enfrentavam dias mais quentes no verão e temperaturas mais baixas no
inverno, do que os atuais habitantes da cidade do Recife. Depois de 1886, as
variações entre as temperaturas máxima e mínima se tronaram menos bruscas, com
uma maior regularidade do clima. Infelizmente, o crescimento urbano
desordenado, com a diminuição de áreas verdes e grande verticalização tem
afetado de forma drástica a ventilação e o clima ameno da cidade, trazendo dias
de calor sufocantes durante o verão.