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sábado, 30 de junho de 2012

Al-jubb de Olinda



Marcelo Lins

Os quase setecentos anos de presença mulçumana na península Ibérica deixaram vestígios marcantes na cultura e na língua falada tanto na Espanha como em Portugal. Palavras como almofada (al-muhaddâ), argola (al-gulla), taça . (tása), tambor (at-tanbúr) ainda de uso corrente na língua portuguesa, outras, no entanto, como aljube (al-jubd), não só tiveram seu significado original modificado, como perderam o uso no vocabulário corrente do dia a dia.

Aljube de Olinda, segundo desenho de Manuel Bandeira para a edição do livro Olinda – 2º. Guia Prático, Histórico e Sentimental de Cidade Brasileira, de Gilberto Freyre, publicado no Recife em 1939.


O substantivo da língua árabe jubb significa poço, cisterna, buraco. Quando os cristãos reconquistaram Lisboa em 1147, o edifício do Poço, ou melhor, Aljube já era utilizado como cadeia pelos potentados mulçumanos da cidade. O período cristão vai dar continuidade a esta função. A partir de 1536, o Aljube é constituído prisão dos eclesiásticos, onde ficavam encarcerados os membros do clero, assim como também os acusados pela inquisição.
Talvez como uma alusão a buraco com a forma mais simples de cárcere, onde se joga o prisioneiro e se bloqueia a entrada, ou talvez pelo fato de a cadeia mulçumana de Lisboa ter esta denominação, a palavra aljube entrou para o vocabulário português como sinônimo de cadeia, masmorra, cárcere; mais especificamente cadeia eclesiástica.
O Vocabulario Portuguez & Latino de Raphael Bluteau de 1728, define Aljube com palavra derivada do árabe Gegebe – “recolher dentro de sí”; ou do hebraico Gebe­ – “cova”. Ou mesmo de algibe – “é cisterna, chamam-lhe assim os mouros, porque nela se recolhe água”. E completa, Em Lisboa o Aljube é prisão dos delinquentes em matérias eclesiásticas.
O termo Aljube, extrapolou o prédio lisboeta, e passou a ser empregado como designativo de cadeia eclesiástica como no Aljube da cidade do Porto, a cadeia do Aljube em Ponta Delgada, nos Açores, ou a cadeia eclesiástica de Olinda.
O edifício do Aljube de Olinda foi projetado pelos engenheiros militares João de Macedo Corte Real e Diogo da Silveira Velozo. Porém, a construção só foi iniciada durante a gestão do Bispo de Pernambuco Dom Francisco Xavier Aranha, e concluída em 1765, como atesta o brasão de armas do bispo e a placa de pedra colocada entre as janelas do pavimento superior.
De acordo com o projeto original, todo o pavimento térreo forma a enxovia (outra palavra árabe ax-xáiuía – masmorra, prisão) tipo de aposento característico, principalmente nos prédios das câmaras e cadeias do Brasil colonial, e que foi utilizado nas cadeias até os fins do século XIX. Aposento sem portas de comunicação com o exterior, com acesso feito através de alçapão com o uso de escada de madeira removível.
Em 1864, o aljube foi transformado em cadeia pública. É monumento tombado desde 16 de março de 1966, como patrimônio histórico nacional. Mesma época em que sofreu restauração conduzida pelo IPHAN. Localizado na Rua Treze de Maio nº. 149, na parte alta da cidade, abriga o Museu de Arte Contemporânea, inaugurado pelo jornalista Assis Chateaubriand, em 23 de dezembro de 1966.





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