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sexta-feira, 13 de abril de 2012

Soldados Pernambucanos nas Malvinas


Marcelo Lins

Calma, Calma! Não tem nada haver com o imbróglio entre os nossos hermanos do sul e os súditos de dona Elizabeth, a segunda. Nem mesmo pretensões territoriais pernambucanas. Afinal, ficaria estranho entoar Salve a terra dos altos coqueiros naquele pedaço de rocha árida perdido no meio do atlântico. Bem... vamos aos fatos. Em meados de 1775, chegam a Pernambuco as primeiras notícias sobre a sumaca [pequeno navio de dois mastros] que estava desaparecida desde outubro do ano anterior, quando perdeu-se da frota que saindo do porto do Recife levava parte do regimento de infantaria do Recife para o Rio de Janeiro.

Plano de las Yslas Malvinas, século XVIII. Biblioteca Nacional.


Tendo partido em 15 de setembro de 1774, transportando 20 recrutas e os capitães Pedro de Mello da Silva e Belchior Mendes, os primeiros dia de navegação foram tranquilos, enquanto navegavam em companhia da frota. Em princípios de outubro, durante a noite, a sumaca perdeu contanto com a corveta que a acompanhava. Inicia-se então o infortúnio da embarcação, ventos contrários, chuvas e tempestades, aliados à incompetência do piloto, fazem com que o barco, sua tripulação e passageiros naveguem durante mais de dois meses perdidos pelos mares do atlântico sul.

A situação piorou quando um nova tempestade a deixou sem velas, enxárcias e cabos. Sem poder aportar, para reabastecer, a situação ia piorando a cada dia. Durante a viagem só se comia e bebia a cada 24 horas. Segundo o relato do Capitão Pedro de Mello  em uma pequena vasilha botava-se uma pouca d’água, e mais azeite doce, e uma pouca de farinha que depois de inchada dava pouco mais de uma mão de massa que se comia com um pedaço de carne seca da largura e comprimento de 4 dedos.

Na terça-feira 13 de dezembro avistam terra. Com o cair da noite afastam-se da costa para tentar aportar no dia seguinte. O dia amanheceu com neblina, mas mesmo assim fazem proa para a terra. Clareando o nevoeiro entraram em uma baia, de onde, não mais conseguiram sair, afligidos que eram por ventos contrários. Perguntado o piloto sobre onde se encontravam, este respondeu que não sabia nem para onde tinha navegado, mas acreditava estarem, segundo seus  instrumentos, 4º ao sul da linha do Equador, no litoral do Ceara ou Pará.
O navio estava com um buraco na proa, sem velas, cabos e com a escotilha sem tampa. Durante dois dias tentaram descer à terra, mas a tempestade os impedia. Quando finalmente desembarcam, decidiram caminhar rumo sul em busca de algum lugar habitado. O frio que fazia leva-nos a crê que não estávamos no Ceara ou Para como dizia o piloto, concluía o capitão Pedro de Mello.

Depois de 12 dias de caminhada comendo apenas capim, encontram três soldados espanhóis. Ficam então, sabendo que estão bem longe das terras do Ceará, pois encontravam-se na verdade nas ilhas Malvinas. Os náufragos são levados para o povoado espanhol, onde são recebidos pelo governador, que imediatamente providencia diligencias para o resgate do capitão Belchior Mendes que durante a caminhada havia ficado para trás com seu filho, 12 soldados, alguns escravos e um outro grupo que também ficou para trás com o furriel [graduação militar superior a cabo e inferior a sargento] Francisco Luis e mais 4 soldados. Em 13 de janeiro chegou ao povoado o grupo liderado pelo capitão Belchior Mendes, tendo morrido quatro dos seus soldados e três escravos. O grupo do furriel Francisco Luis não teve a mesma sorte e todos morreram. A sumaca nunca foi encontrada.

Depois de recuperados dos seus infortúnios em terras tão gélidas, os soldados pernambucanos foram levados por navio espanhol, para a fortaleza de Colônia, cidadela portuguesa encravada em território espanhol, na entrada do rio da Prata, bem diante de Buenos Aires, atual cidade uruguaia de Colônia do Sacramento. 





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