Marcelo Lins
Muitos podem perguntar o que
teria o capitão donatário de Pernambuco e a ex-colônia britânica, atual
província independente da China e um dos centros financeiros mais importantes
do capitalismo mundial? A resposta é simples, antes de “carimbar o passaporte” e
vir fundar a Vila de Olinda nas costas tupiniquins, Duarte Coelho passou grande
parte da sua juventude (1509 a 1529) a serviço da coroa portuguesa nos mares do
oriente. Durante estes vinte anos, navegou pelos ilhas da Indonésia, golfo de
Sião, costa do Camboja e mar da China, onde hoje se destacam lugares como Bali,
Cingapura, Bangkok e, é claro,
Hong Kong.
Estuário do Rio das Pérolas, Mapa da Costa da China - Por volta dos anos 1787 d.C. e 1820 d.C.
Fonte: Bibl. Digital Mundial (http://www.wdl.org)
Em 12 de agosto de 1516, Duarte
Coelho parte do porto de Malaca, na costa ocidental da península Malaia, no
comando de um dos juncos da frota capitaneada por Fernão Perez de Andrade. O
objetivo, buscar notícias do navegador português Rafael Perestrelo, enviado
pelo capitão de Malaca Jorge de Albuquerque à China, em missão de
reconhecimento. Já no mar da China, a frota foi atingida por uma tempestade e
dispersou-se. Perez, retornou a Malaca e Duarte Coelho procurou abrigo na costa
da Tailândia, onde invernou na foz do
rio Menam, (rio Chao Phraya), não muito distante da
atual Bangkok.
Sem noticias da frota, Duarte
Coelho decide manter seu curso original, seguir para a China, onde chegou ao estuário
do rio das Perolas, na costa meridional em meados de julho de 1517, ancorando
no porto de Tung Chung na costa norte
da ilha que os portugueses chamavam de Tamão ou Beniaga, e os chineses de Dayushan,
atual ilha de Lantau na Região Administrativa Especial de Hong Kong.
De acordo com as regras chinesas,
os navios estrangeiros deveriam aportar numa das ilhas do estuário do rio das
Perolas, antes de terem permissão para subirem o rio em direção à cidade de Cantão,
em chinês Guangdong, capital da
província de mesmo nome, e principal centro comercial da região sul da
China.
O primeiro europeu a aportar em
Hong Kong, e consequentemente diretamente na China, foi o português Jorge Álvares, apenas alguns
anos antes, em 1513. Seguido pelo mesmo Rafael Perestrelo em 1516. Este ultimo,
por sinal, lá retornou, na segunda expedição de Fernão Perez que chegou à ilha
de Lantau em agosto de 1517, onde encontrou a Duarte Coelho que ali chagara
havia um mês e “já estava instruído do regimento daquele porto”, segundo
encontramos nas Décadas da Asia de
João de Barros (1496–1570).