Marcelo Lins
Seguindo do
Recife para o norte pela BR-101, pouco depois de Igarassu, podemos ver a
pequena igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem do Pasmado às margens da estrada,
no ângulo formado pela BR e a PE-041 que segue para os municípios de Araçoiaba
e Carpina. Quem pergunta-se admirado, o que faz aquela igreja solitária, no
meio do canavial, com as costas voltada para a estrada? Pasmado ficaria com a resposta.
A primitiva capela de Nossa Senhora da Boa Viagem foi construída no
início do século XVIII ou fins do XVII. Era
o centro do antigo aldeamento indígena que deu origem ao povoado do Pasmado. Em
1748 Borges da Fonseca no seu Nobiliarchia
pernambucana, escreve sobre João César Falcão, morador do Pasmado.
Data de fins
do XVIII, 1772 para ser mais exato, o Livro de Batismo onde se registravam os
nascimentos da povoação:
Aos 12 dias do mês de fevereiro de 1788 anos, na Capela de Nossa Senhora da Boa Viagem, pôs os santos óleos o Reverendo Coadjutor Mathias Pereira de Mello a Jerônimo, nascido a quatro do dito mês, batizado em casa pelo Reverendo José Bezerra de Mello, em perigo de morte, filho legítimo do Sargento-Mor Manoel César Falcão e de Dona Maria do Ó e Melo, moradores neste lugar, neto paterno do Coronel João César Falcão e Dona Joana Bezerra de Andrade, neto materno de Aires Barbalho de Figueiredo e de Dona Leonor Pereira da Cunha, e para constar mandei lançar o presente e o assinei.Antônio da Costa Pinheiro - Coadjutor de Itamaracá (Imagem 004 - Livro de Batismo de 1772 do Pasmado)[1]
Henry
Koster que passou pelo Pasmado em outubro de 1810, descreve o povoado de 200 a 400 habitantes,
com um certo número de choupanas humildes que formavam um quadrado e um igreja.
Em 1821, a igreja foi nomeada matriz da recém criada freguesia do Pasmado.
Neste mesmo ano foi criado no lugar um comando militar com trinta soldados de
milícia. Em 1822, foi criada uma escola primária com um professor que recebia um salário anual de cento e vinte
mil réis.
O Pasmado era
então, em meados do século XIX, uma
animada vila com sua igreja e uma capela de Nossa Senhora do Terço, um prédio
que servia de cadeia, mais de cem casas, e mesmo alguns sobrados. As primeira
letras e latim eram ensinados em escolas públicas e particulares. Os festejos
populares divertiam a sua população: presépios, fandangos, danças de corda,
cavalhadas e “uma função chamada comédia”[2]
A
decadência da povoação iniciou-se ainda naquele século, quando da supressão da
freguesia pela lei provincial n. 44 de junho de 1837. Pereira da Costa também
debita a ruína do povoado aos conflitos de terra com o senhor do engenho
Caga-fogo.
[1]
JFelipe – em http://trindade.blog.digi.com.br/category/historia/page/23/
- acessado no dia 03.03.2012.
[2]
Pereira da Costa, F.A. Anais
pernambucanos. 2ª. Ed. estudo introdutório, José Antônio Gonsalves de Mello. Recife: Governo de Pernambuco,
Secretaria de Turismo, Cultura e Esportes, Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico
de Pernambuco, Diretoria de Assuntos Culturais, 1983; vol. 8, p. 148.