Marcelo Lins
Um dos aspectos mais pitorescos sobre a fundação da
vila de Olinda está ligada à escolha do sítio onde assentou-se o primeiro
núcleo de povoamento. Contam alguns autores, que estando o primeiro donatário
de Pernambuco, Duarte Coelho, a vagar em busca do local apropriado para fundar
sua capital, deparou-se com um sítio, de onde diante da beleza da vista não
conteve a exclamação Oh! Linda situação
para se fundar uma vila!. Outros, como o frei Vicente de Salvador, tiram a
primazia do donatário e creditam a nomeação da vila a um dos seus criados, um
galego, que do alto do monte admirado exclamou Olinda.
A lenda sobre a escolha do sítio para a criação de uma vila parece corroborar a crença de que as cidades portuguesas fundadas na América seriam frutos de uma escolha casual e aleatória, que se traduziria numa ocupação desordenada do território. Não que a bela paisagem que se descortina do alto da Sé de Olinda, cujos adjetivos aqui seriam insuficientes para descrever, não pudesse servir como pretexto para sua fundação. Mas, o local onde foi assentada a vila de Olinda, passa longe de ser fruto do acaso. Estudos mais recentes vêm demonstrando, que apesar da aparente desordem das cidades colônias portuguesas, estas são erguidas baseadas em princípios e regas, que mesmo não explicitas, eram fruto de uma longa tradição urbana presente na formação das cidades lusitanas desde o período medieval.
Na fundação de suas cidades, os lusitanos procuravam
tirar proveito dos aspectos físicos e geográficos encontrados. O processo de
implantação e consolidação da cidade portuguesa realizava-se no local e de
acordo com configuração natural do local. Os núcleos embrionários de povoamento
eram instalados, preferencialmente, em terreno elevado por necessidades
militares e de defesa, tendo sempre um
porto em suas imediações para comercio de transporte.
A partir da cidade alta
estes núcleos cresciam ocupando as encostas e terras mais baixas, criando um
configuração urbana bem nossa conhecida, encontrada tanto nas cidades de Lisboa
e do Porto, como nos assentamentos brasileiros do primeiro momento de colonização, no século XVI:
Salvador, Rio de Janeiro e Olinda.
Na primeira metade da década de 1530, a administração portuguesa
estabeleceu o sistema de capitanias com o objetivo de iniciar a colonização do Brasil.
Em 10 de março de 1534,
rei de Portugal D. João III doou ao fidalgo galego Duarte Coelho Pereira a
capitania de Pernambuco.
“Sessenta
léguas de terra da costa do Brasil, as quais começarão no rio São Francisco,
que é do Cabo de Santo Agostinho para o Sul, e acabarão no rio que cerca em
redondo toda a Ilha de Itamaracá, ao qual ora novamente ponho nome de Rio Santa
Cruz, e mando que assim se nomeie e chame daqui por diante e isto com tal
declaração que ficará com o dito Duarte Coelho a terra do Sul”[1]
O litoral de
Pernambuco, aquela altura, não era de todo desconhecido dos navegantes e
exploradores portugueses. Em agosto de 1501, a costa Pernambuco era visitada
pela expedição exploratória comandada por Gaspar de Lemos, da qual também fazia
parte o florentino Américo Vespúcio. Ao longo das primeiras décadas do século
XVI, outras expedições de reconhecimento e de patrulha foram enviadas pela
coroa para as costas do Brasil.