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sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Olinda, o lugar - Parte II

Marcelo Lins

Duarte Coelho desembarca no litoral de Pernambuco no dia 9 de março de 1535, acompanhado de sua mulher Dona Brites, do cunhado Jerônimo de Albuquerque, do feitor e almoxarife real Vasco Fernandes de Lucena, e uma numerosa comitiva de pessoas com o objetivo de colonizar as terres que lhe foram concedidas pelo Rei D. João III.

O porto de desembarque pode nos dar uma dica das intenções do donatário. Tendo a sua disposição um litoral de 60 léguas, escolheu aportar exatamente na foz do canal de Santa Cruz, ao sul da ilha de Itamaracá, limite norte das terras recebidas.  Aquele porto era regularmente frequentado pelos portugueses desde de 1516, quando ali foi fundada por Cristóvão Jacques uma feitoria para o comercio de pau-brasil, como se vê da própria carta de doação de 1534, “ficará com o dito Duarte Coelho a terra da banda Sul, e o dito rio onde Cristóvão Jacques fez a primeira casa de minha feitoria”

Mapa do Brasil atribuído a Luís Teixeira, c. 1753



Sobre a feitoria portuguesa há um breve relato de Luis Ramirez, tripulante da armada de Sebastião Caboto, que passou pelo litoral pernambucano em meados de 1526. Com o objetivo abastecer a armada de água.

Foi forçado a enviar a caravela e com ela o piloto da nau capitânia e um batel e que fossem buscar pela costa um rio de água doce, e estando nisso, veio à nau capitânia uma canoa de índios na qual vinha um cristão, que informou ao senhor capitão-general onde estavam e disse-lhe que se chamava Pernambuco e que o rei de Portugal tinha ali uma feitoria para o trato do brasil (pau-brasil) na qual encontravam-se treze cristãos portugueses.[1]

Seria estranho, se após quase duas décadas de presença na região os portugueses desconhecessem as colinas situadas pouco mais de quatro léguas ao sul, assim como o porto dos arrecifes e a planície da foz dos rios Capibaribe e Beberibe.

Além disso, é bom lembrar que a terra não estava desocupada, era preciso tomar as terras dos seus primitivos donos, que não a entregariam sem luta. As colinas de Olinda eram, então, ocupadas por uma aldeia dos caetés. Por isso, Duarte Coelho escolheu a antiga feitoria, onde podia abrigar sua gente no forte de madeira e a partir de ali iniciar a campanha de conquista das terras indígenas.
Obtidas as primeiras vitórias, o donatário ruma para o sul, onde se achava o local ideal para a fundação da vila de Olinda, seguindo as práticas urbanas lusitanas.

O sítio escolhido, sobre uma colina situada próxima ao mar, oferecia condições propicias para defesa e excelente posto de observação de onde se podia controlar grande parte da costa e do território circunvizinho. Além disso, tinha a proximidade do porto protegido por arrecifes naturais; e da planície do Recife, que além de solo fértil para a cultura da cana-de-açúcar, era cortada pelos rios, Capibaribe e Beberibe, o que facilitava, não tão somente, o transporte do açúcar para o porto, mas também o acesso às matas interiores, fartas em lenha e pau-brasil.

Foi assim, que a partir do Alto da Sé, Duarte Coelho ergueu uma torre fortaleza de pedra e cal, em trono da qual cresceu a vila de Olinda.




[1] RAMÍREZ, L. Carta de Luis Ramiréz a su padre desde el Brasil (1528): Orígenes de lo ‘real maravilloso’ em El Cono Sur. Edicición, Introd. y notas de Juan Francisco Maura. In Col. Textos de la revista Lemir. 2007. Disponível em: http://parnaseo.uv.es/Lemir/Textos/Ramirez.pdf, p. 22-23.



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